O que, afinal de contas, os conservadores querem conservar?

Recentemente, tivemos o desgosto de receber um zumbido informando  que Patos de Minas será a sede do I Congresso da Sociedade Conservadora. A igrejinha em questão está prevista para acontecer neste início de março, no Centro de Convenções do… Unipam(!?). Está aberta para o público retraído em geral, sob o pagamento da “módica” quantia de 40 reais – simplório imposto de capitação em tributo aos senhores feudais convidados. A organização está a cargo do movimento de extrema direita “Nas Ruas”. 

A primeira edição do referido colóquio contará com a presença de nomes já carimbados do universo conservador, isto é, do charlatanismo nacional, tais como o ex-senador Magno Malta, o jogador de vôlei Maurício e o influenciador Gustavo Gayer. Outros nomes, de menor monta, também estarão presentes, tais como o major Vitor Hugo, a deputada Ale Silva e o pastor Wesley Ros. Cogita-se que até mesmo integrantes da famílíci… ops família Bolsonaro estarão  presentes.

Gostaríamos de dizer quais as finalidades do congresso, para melhor informar você, caro público leitor. No entanto, isso não foi possível, haja vista que não encontramos em lugar algum – jornal, site ou rede social – tal informação. É preciso salientar que esse silêncio parte da comissão organizadora não é um dado ingênuo, fruto de um suposto amadorismo comunicacional como poderíamos supor a princípio. Muito pelo contrário, ele é um elemento manipulado conscientemente para desinformar a opinião pública. Sua finalidade é impedir que as pessoas estejam minimamente conscientes do amontoado de besteiras que suas  lideranças estão habituadas a vomitar em qualquer espaço – físico e/ou virtual – que ocupam. 

Isso nos leva à pergunta que não quer calar: o que os conservadores patenses querem? Ainda que seus objetivos nunca apareçam de modo organizado e sistemático em algum projeto, podemos colher, aqui ou acolá, algumas pistas quando decidem conclamar caçadas anticomunistas, realizar declarações homofóbicas nas redes sociais ou tentar invadir escolas para assediar professores.

O que os conservadores patenses desejam é algo simples na aparência: anseiam conservar uma determinada ordem na qual as pessoas assumam o seu lugar natural dentro da sociedade. Segundo essa ordenação pré-estabelecida, as pessoas estariam destinadas a desempenhar aquilo que a sua natureza lhes incumbiu. Nesse sentido, concebem um modelo de organização no qual as desigualdades de classe, raça, gênero e sexualidade se devem às aptidões com quais cada um já nasceu, restando aos indivíduos apenas se adaptarem a elas. Dai sua fixação – quase neurótica – na tradição, panaceia que sempre evocam para justificar a manutenção da dominação e exploração de trabalhadores, mulheres, negros e lgbts. 

O grande problema é que a tal ordem natural para qual tanto apelam os nossos conservadores simplesmente não existe… Ai é que a coisa fica complicada!  Foram os tempos que o grau incipiente das ciências sociais permitiam a aceitação acrítica e irreflexiva de tamanha besteira. Como se sabe, as desigualdades encontram sua razão de ser nas condições sociais, que criam, instituem e reproduzem estruturas que hierarquizam as pessoas de acordo com diferentes sistemas de exploração e dominação, tais como o capitalismo, o racismo, o machismo e a lgbtfobia, por exemplo.

Não tendo, portanto, a desigualdade uma base natural, mas sim social, podemos fazer uma outra pergunta, que também não quer calar: o que os conservadores patenses desejam tanto conservar? Ora, a resposta está na nossa cara: a própria desigualdade. O que a sua costumeira retórica moralista oculta é justamente esse “ressentimento dos poderosos”, afeto que emerge entre aqueles que, confundindo direitos e privilégios, sentem que sua existência se encontra sob ameaça diante da mínima contestação da ordem hegemônica por parte dos grupos subalternos.  

Como escrevi em outro momento:

“Trata-se do professor universitário que quer continuar escravizando a empregada doméstica negra; do médico que quer continuar traindo a esposa; da blogueira que quer continuar fazendo voos exclusivos; do político que quer continuar despejando sua LGBTfobia; do ruralista que quer continuar perseguindo trabalhadores sem-terra … Mais do que indivíduos específicos, são tipos sociais que alimentam e são alimentados pela pequenez que encerra o horizonte político de Patos”.  

É justamente nesse ponto que os conservadores se encontram com os liberais, seus irmãos siameses. Já disse isso e vou repetir: na sua ânsia por restaurar uma suposta ordem natural – que só existe na cabeça deles – o conservadorismo mascara as tendências mais violentas do capitalismo, especialmente o liberalismo. O ataque às leis trabalhistas, a privatização de serviços públicos e a reforma da previdência acontecem simultaneamente ao cerceamento dos debates sobre gênero na escola, tentativas de dificultar o aborto legal e os ataques rotineiros ao casamento civil igualitário. Isso está longe de ser um dado fortuito.

Daí a necessidade de que a esquerda patense se una em torno de um projeto permanente – que não esteja subordinado ao calendário eleitoral – para fazer frente  aos estragos já feitos e que estão sendo arquitetados pelos conservadores/liberais na cidade. Diante disso, finalizo este texto com uma provocação: já não é hora de lançarmos o I Congresso da Esquerda em Patos de Minas?

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