Nem todo sulista. Mas sempre um sulista

Em “Nem todo sulista. Mas sempre um sulista”, a poetisa Élida Abreu manda a real sobre o sabor amargo dos casos de trabalho análogo à escravidão nas vinícolas da serra gaúcha.

Por Élida Abreu

Ei! Senta aí vamos bater um papo, vou te falar qual é a real do bang.
Vamo abrir uma garrafa de vinho, que por coincidência ou não, já tem a cor do sangue.
Bebida nobre desde que o mundo é mundo. Embala comemorações, grande conquistas, momentos românticos.
E de repente… o seu lado imundo.
Mas aqui é o Brasil. Como fazer diferente?
Que a bebida nobre, do novo e velho mundo, sobreviva sem escravizar gente?
Gente que planta, mas não colhe. E quando colhem é pra engarrafar pros engravatados, que pra sair da cena do crime alegam que os programas sociais atrasam seu reinado.
Reinado que na maioria das vezes, foi herdado dos usurpadores.
Mas “peraí”, não confundam essas terras com as dos nossos pequenos agricultores.
Ah esses não! Esses além de cuidar da mãe natura, alimentam, e cada dia mata um leão.
Isso é se o leão não os matarem antes. Tá ligado aquele leão da receita? Porque pra quem vive do suor da testa ele tá sempre a espreita.
E aí secou a guela? Respira fundo, dá mais um gole e pode tá certo que vão tentar mexer os pauzinhos pra encerrar essa novela.
Ou pelo menos desviar a culpa, sendo solidários até os indignados baixarem o tom.
E você se liga no rótulo e não leve os de nome Salton.
Tentados pelo preço e qualidade, mesmo na euforia da hora.
Também boicote os do rótulos Aurora.
Você pode ter paladar refinado ou ser iniciante nessa irmandade, diante das pratileiras descarte igualmente os rótulos Garibaldi.
Ah mas nós somos a massa, e a grande maioria dos consumidores dessa maravilha é a burguesia, nem vai fazer diferença .
Mano! Se a grande massa soubesse o poder que tem, não teria tanta má notícia pra imprensa.
E pra encerrar eu vou parafrasear quem sempre se importou com nossa trajetória:
“Tim tim um brinde pra mim, eu sou exemplo de vitórias, trajetos e glórias.”
Vou seguindo firme e forte na luta, incomodando com a minha rima a videira desses filha da p*ta.

Um comentário

  1. Escrita incisiva e necessária. Sempre o sul, nos Estados Unidos foi preciso uma guerra civil, contra o sul escravocrata para que escravidão fosse abolida. Mas o racismo não acabou. Aqui, não escravizam mais apenas afrodescendentes, escravizam todos que precisam trabalhar, não bastasse a chibata, ainda humilham através de uma xenofobia vil, seus próprios conterrâneos. O vinho do sul, não tem somente a cor de sangue, mas deve também ter o cheiro e o gosto da vergonha, que estes sulinos não possuem. Vinho nunca mais’

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