Interesses drásticos – parte 3/3: inflação

Terceiro e último texto da série sobre os temas que incomodam a campanha de Bolsonaro.

Apesar do discurso eleitoreiro de Bolsonaro, o fato é que o brasileiro passou a ter um poder de compra reduzido quando o assunto é combustível. Mas não para por aí. A inflação no período do seu governo chegou a bater na casa dos 12%. 

Gráfico extraído da matéria de Bruno Lupion para o Deutsche Welle, publicada em 30 de setembro de 2022.

Recentemente, o presidente disse, no podcast Inteligência Ltda, que não há fome no Brasil em função do Auxílio de 600 reais. Na cabeça do Jair, o Auxílio Brasil seria 3 vezes maior que o Bolsa Família – o que é falso, pois essa comparação (que considera 190 reais como valor médio do benefício criado no governo Lula) não corrige os valores de acordo com a inflação, caracterizando-se como comparação desonesta ou ignorante. Mas não é essa a questão: Bolsonaro afirma, sem perceber seu grau de afastamento do cotidiano dos trabalhadores, que 20 reais compram 2kg de carne de frango! Claramente, Bolsonaro não vai ao supermercado há algum tempo – e/ou só representa quem não vai!

A inflação dos alimentos, conforme o IBGE, teve leve redução no período eleitoral, mas acumula alta de 13,28%. Ou seja, sob o governo Bolsonaro, nos supermercados, os preços são ainda piores para os trabalhadores. Além disso, o IBGE também registra, contrariando a MENTIRA e o NEGACIONISMO do presidente, que há 33 milhões de pessoas passando fome (insegurança alimentar grave) no Brasil.

Dirá o direitista convicto, novamente, que a culpa é da pandemia e da Guerra da Ucrânia. Esquece, porém, que Bolsonaro adotou uma política de terra arrasada em mecanismos de combate à inflação.

Por exemplo, seu governo, em conformidade com a cartilha do neoliberalismo (manifestamente em vigor desde 2015, quando Joaquim Levy foi colocado no Ministério da Fazenda) praticamente zerou os estoques de alimentos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Se estivesse preocupado com a sorte do povo mais pobre, teria mantido estoques, a fim de poder controlar a oferta dos principais gêneros alimentícios no mercado e, assim, evitar as altas dos preços. Em vez disso, a política de Bolsonaro seguiu a cartilha neoliberal, não interveio e deixou o brasileiro levando uma surra da “mão invisível” do mercado. No mesmo campo de ações possíveis, o governo poderia ter apostado mais fichas na agricultura familiar, mas o interesse dos grandes ruralistas falou mais alto.

Outro exemplo é o fato de Bolsonaro e Guedes não terem apresentado medidas efetivas de controle cambial (algo que poderiam fazer, por exemplo, por meio do Banco Central – onde Bolsonaro tinha o amigo Pedro Guimarães, investigado, aliás, por assédios morais e sexuais contra funcionárias). O que vimos foi uma desvalorização dramática do Real frente ao Dólar, encarecendo indiretamente todos os produtos vinculados à moeda estadunidense. Para refrescar a memória: Guedes disse, em março de 2020, que, se ele fizesse “muita besteira”, o dólar chegaria a 5 reais. Pois bem. Chegou, passou esse valor e voltou ao patamar besteirol: hoje, 22 de outubro (quando escrevo este texto), o dólar está a 5,16. 

Por fim, para quem acredita nas promessas de Jair Bolsonaro, vale explicitar uma obviedade: no segundo turno, o candidato da burguesia passou a contar com uma vultosa soma de doações: 65 milhões de reais vindos de latifundiários e donos de empresas. Embora Lula ainda tenha mais dinheiro para fazer campanha, a questão é que quem paga a banda escolhe a música. E o ritmo, no caso, seria patronal. 

Adivinhem para quem ele irá governar…

A campanha de Lula (cujo valor julgo excessivo), é bancada, em sua imensa maior parte, pelo Fundo Especial, ou seja, em última instância, o petista não deverá tanto a empresários e fazendeiros quanto Bolsonaro, que certamente terá que retribuir, com juros, os favores agora recebidos. Jair, caro leitor, já é um presidente vendido.

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