Interesses drásticos – parte 2/3: gasolina

Segunda parte da série de textos abordando interesses da classe trabalhadora nestas eleições.

Peça fundamental da propaganda eleitoral de Jair é a afirmação de que seu governo é responsável por uma suposta queda no preço dos combustíveis, especialmente a gasolina. Isso é falso, considerando o governo todo. Dois fatores precisam ser colocados na discussão: o histórico de preços (tanto os nominais quanto os corrigidos pela inflação) e o quanto de combustível o salário pode comprar. 

Gráfico extraído da matéria de Marcelo Roubicek, Gabriel Zanlorenssi e Lucas Gomes, publicada no Nexo Jornal em 17 de março de 2022. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/03/17/5-gr%C3%A1ficos-para-entender-20-anos-de-pre%C3%A7os-da-gasolina>. Acesso em: 22 out. 2022.

Trazer a série histórica dos preços é importante porque desmente a narrativa de Bolsonaro: durante seu governo, os preços aumentaram substancialmente, em função da paridade internacional da política de preços da Petrobras, que deixou o mercado brasileiro muito vulnerável às oscilações do preço do barril de petróleo no mercado internacional (especialmente diante de eventos como a Guerra da Ucrânia). A queda recente é meramente eleitoreira. Tanto que já se espera uma alta logo após a eleição.

Dirá o bolsonarista convicto que fatores externos foram responsáveis pelos aumentos e que Jair nada podia fazer, pois a Petrobras teria independência. Piada de mau gosto: o Estado é acionista majoritário e tem, sim, poder de intervir na empresa. Não por acaso, o presidente da Petrobras no auge da crise foi um general indicado por Bolsonaro, Joaquim Silva e Luna. Antes dele, Roberto Castello Branco, um preposto de Paulo Guedes, igualmente entreguista e neoliberal. 

Em vez de usar a Estatal para proteger o consumidor dos aumentos ou de investir na própria empresa, o governo Bolsonaro escolheu beneficiar os acionistas privados da (muitos sequer são brasileiros) e deixar o trabalhador pagar mais caro. Aliás, esse é um ponto sensível da conversa fiada de que Bolsonaro é patriota. Confira os gráficos abaixo e se pergunte onde está o patriotismo do presidente, que deixou os estrangeiros surfarem na alta dos preços de combustíveis e, considerando as Demonstrações financeiras da empresa (p. 99), abocanharem cerca de 47 bilhões de reais só em 2021. Muito patriota!

Quando o período eleitoral se aproximou, o governo Bolsonaro fez pressão sobre a empresa e interveio com trocas de cargos. Sinal claro de que a não interferência dele em outros momentos interessava aos acionistas. A redução mais recente dos preços foi puxada também pela limitação do ICMS, imposto estadual que Bolsonaro optou por sacrificar a fim de não irritar os acionistas e manter a política de paridade de preços, ainda que prejudicando os governos estaduais.

Quando se coloca em cena a comparação entre o preço dos combustíveis e o salário mínimo, temos uma noção mais apropriada do que significaram as gestões de Lula e Bolsonaro na questão:

Gráfico extraído da matéria de Marcelo Roubicek, Gabriel Zanlorenssi e Lucas Gomes, publicada no Nexo Jornal em 17 de março de 2022.

Na parte final desta série de textos, abordamos brevemente a questão da inflação e o problema das contas de campanha de Bolsonaro.

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