Desde a elevação do Covid-19 ao estatuto de pandemia global, notou-se uma escalada nos níveis da desigualdade social no mundo, em geral, e no Brasil, em particular. Entre o início de 2020 e o início de 2021, assistimos diariamente a notícias relatando o enriquecimento dos já ricos, o aperfeiçoamento do Estado como gestor da necropolítica, o aumento dos casos envolvendo o racismo, o machismo e a lgbtfobia. Tais fenômenos vieram tão somente reforçar uma lógica excludente que já existia na sociedade capitalista.
Neste intervalo, as únicas comunidades populares que conseguiram dar uma resposta positiva no enfrentamento da crise foram aquelas que já contaram com alguma rede já existente de apoio mútuo, conceito caro ao pensamento do anarquista russo Piotr Kropotkin[1]. Arrecadação e doação de alimentos, campanhas de conscientização quanto as medidas de higiene necessárias para conter a propagação do vírus e até criação de unidades móveis de atendimento imediato em casos suspeitos do Corona Vírus, foram algumas das iniciativas que diminuíram os efeitos da pandemia sobre o já tão sofrido povo trabalhador brasileiro.
Em Patos de Minas, a situação não é diferente. Por aqui, quem sentiu com mais violência os resultados da crise sanitária e social foi o povo trabalhador, em especial sua parcela negra, feminina e lgbt. Diante deste contexto calamitoso, a resposta do prefeito Falcão foi bem tímida. Isso se considerarmos o seu recente e duvidável despertar do sonho (ou seria pesadelo?) bolsonarista. Se adicionarmos o período em que estava dormindo, não encontraríamos maiores inconvenientes em concluir pela sua quase nulidade.
Em face deste cenário, o Coletivo Mada lançou no dia 11 de abril a campanha solidária “Quem tem Mpangi não passa fome ”. Inspirado na ancestralidade africana, seu mote busca na cultura bakongo, que vê no outro um irmão ( Mpangi) com qual se pode contar para superar adversidades e compartilhar vitórias.
De acordo com Élida Abreu, uma das articuladoras da campanha, a iniciativa visa abarcar as necessidades imediatas das pessoas trabalhadoras da cidade, que se encontram desempregadas ou impossibilitadas de trabalhar. “Vamos dar atenção” disse ela “ para os setores mais fragilizados, como as pessoas negras, as mães e pais solo, os lgbts. Estamos estudando também atender as pessoas em situação de rua. Distribuir kits de higiene, refeição… tudo com segurança, ainda temos que ver”.
Segundo, ainda, Élida Abreu, na próxima semana o coletivo se reunirá para fazer um mapeamento visando localizar e identificar as pessoas que serão assistidas. A ideia é que a campanha seja permanente, ou pelo menos enquanto a pandemia durar. Além disso, ela acrescenta que “é importante aproveitar o espaço da campanha para denunciar as desigualdades e cobrar do poder público para criar políticas de bem estar que promovam essas mesmas pessoas”.
O Coletivo Mada está aceitando alimentos não perecíveis, materiais de limpeza e produtos de higiene pessoal. Se você tem disponibilidade e/ou interesse em doar, pode procurar ponto de arrecadação, que é a sede da Dimep – Diretoria de Igualdade Racial, Memória e Patrimônio Cultural -, que integra a Sectel – Secretária Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer -. O endereço é Avenida Getúlio Vargas, número 80, no Bairro Centro. As doações serão recebidas por Gisele Tavares, das 07:00 às 19:00 horas.
Para finalizar, é sempre bom lembrar o lema de que “solidariedade é mais que palavra escrita”. Então, vamos ajudar, caras/os leitores/as!
[1] Apoio mútuo foi um conceito desenvolvido pelo geógrafo anarquista russo Piotr Kropotkin para identificar formas autônomas de solidariedade, que existem entre as espécies animais – humanas ou não – frente às adversidades colocadas pelo meio – natural ou artificial – na luta pela sobrevivência. Sua obra em português pode ser consultada aqui.