No ano de 2024, comemoramos os 110 anos de nascimento de Carolina Maria de Jesus, escritora mineira que deixou uma vasta obra. Habilidosa tanto no verso, quanto na prosa, ela escreveu desde diários até poesias, passando por contos e romances, que agora muito justamente ganham a visibilidade e o reconhecimento que merecem.
Em vida, a autora se notabilizou pela capacidade de dar forma literária à dura realidade experimentada por ela na Favela do Canindé, em São Paulo, entre fins da década de 1950 e princípios da década de 1960. Desse testemunho único, resultou “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, uma dura crítica social às desigualdades de classe, raça e gênero presentes na formação social brasileira.
Para celebrar esta importante data, a Biblioteca Municipal João XXIII promoverá a roda de conversa intitulada “Quarto de Despejo: o protagonismo de Carolina Maria de Jesus”, nos marcos da IV Semana de incentivo à leitura, cujo tema é Afromineiridades. A referida roda contará com a apresentação de Mara de Deus Patrício, professora da rede pública municipal de Patos de Minas e doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia.
De acordo com Mara de Deus Patrício, a comemoração dos 110 anos de Carolina de Jesus permite a todos nós mais um momento de reflexão, no qual a questão social se sobressai mais uma vez. Em suas próprias palavras:
“Carolina de Jesus traz para a sociedade brasileira as urgências que permanecem negligenciadas. E é com o protagonismo de uma mulher negra, periférica e pobre que ela nos ensina, de maneira honesta, que a leitura e a literatura são processos seguros de ascensão intelectual. Carolina de Jesus é mulher do seu tempo e do nosso tempo. Tornando-se conhecida em todo o Brasil e no exterior, hoje referência de leitura para vestibulares, firma-se como alguém que não se deixou silenciar e que deu voz às suas dores e aos seus desejos. Externou uma verdade social sem tamanho. É uma brasileira merecedora de todo o nosso respeito”.
Segundo ainda a professora, essa verdade da qual a escritora mineira é portadora encontra uma síntese perfeita no seguinte testemunho que deu:
“Eu fui criada no mundo. Sem orientação materna. Mas os livros guiou os meus pensamentos. Evitando os abismos que encontramos na vida. Bendita as horas que passei lendo. Cheguei a conclusão que é o pobre quem deve ler. Porque o livro é a bússola que há de orientar o homem no porvir” (Meu Estranho Diário)
A atividade ocorrerá no dia 17 de abril, às 19 horas, nas dependências da própria Biblioteca, que se encontra localizada na Rua José de Santana, número 119, Bairro Jardim Centro. Trata-se de um evento público, destinado à comunidade em geral.