A Marselhesa do Fogo

Em “A Marselhesa do Fogo”, o poeta Neno Vasco nos convoca para entrar na dança revolucionária que fará a sociedade capitalista ser consumida em chamas. A pesquisa e edição são de Thiago Lemos Silva

Por Neno Vasco

A chama a crepitar! Em círculo formai!

Dançai! Dançai!

De archote acesso o mundo iluminai!

Correi, correi filhos do Povo!

Deixai a pena e vinde ver…

Vinde assistir ao quadro novo:

O burgo vil a arder!

A chama alegre, a crepitar,

Anda a correr entre os casebres:

Arde um covil de fome e febres:

A chama heróica sobe ao ar…

A chama heróica sobe, voa,

Sobre as pocilgas – rubro véu:

E a crepitar o fogo entoa

Uma canção que sobe ao céu…

Quanta miséria desenfecta

A chama audaz de rubro tom!

O burgo é velho, o rubro é bom!

A chama sobe em linha reta…

O burgo todo se esboroa,

A chama varre a podridão.

Oh! Como a terra será boa!

Oh! Quantas mesas brotarão!

Colhe as panteras no covil,

Queimada vá! Colhe as serpentes!

A chama tem línguas frementes,

E põe no céu um tom febril

A chama faz cair ligúrios,

E faz ruir prisões também:

Lambe quartéis, mantos púrpuros,

A podridão que a terra tem…

E enquanto o burgo se reduz;

As brasas rubras, fumegantes,

As chamas têm tons fulgurantes

Duma potente e nova luz.

A chama canta, salta e corre.

O velho burgo tomba enfim…

Oh! Quanto abutre cai e morre!

Oh! Quanto abutre em seu festim!

De face a arder – que a chama cresta!

Oh! párias nus, vinde dançar,

Dançar em roda, correr, cantar,

Que esta fogueira é vossa festa

Poesia originalmente publicada em A Guerra Social, 16 de julho de 1911, nº2, Rio de Janeiro.

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