“Sem som, sem luz, sem voz, sem trabalho e sem apoio!”. Assim se manifestaram muitos dos trabalhadores e das trabalhadoras da cultura patense, em várias redes sociais, no último dia 20. Diante das várias negativas de Ivan Rosa em dialogar, a classe cobrou publicamente uma atitude da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer sobre o orçamento destinado aos eventos artístico-culturais da cidade.
Para controlar o contágio do Covid-19, a Prefeitura Municipal se viu obrigada – mesmo que de modo reticente – a adotar uma série de medidas de restrição social. Escolas permaneceram fechadas, comércio não essencial foi proibido de funcionar, decretou-se toque de recolher e a venda de bebidas alcoólicas foi interditada. Bem ou mal aplicadas, elas têm permitido um pequeno alívio na já precária rede de saúde pública local, impedindo que a barbárie que assistimos em outros lugares – como Manaus, – aconteça em Patos de Minas.
Tais medidas, entretanto, afetaram diversos setores da economia patense, em geral, e o artístico, em particular. Impedidos de trabalhar, por causa do alto grau de risco que eventos públicos comportam, a classe artística se viu privada de sua fonte de sobrevivência. Embora tenha acontecido alguns eventos virtuais aqui e acolá, para resolver esses impasses, não foram suficientes para suprir as demandas da classe como um todo.
Ciente de que unindo seus esforços poderia obter resultados mais efetivos, a classe artística buscou se organizar. Por meio de um grupo de whatsapp intitulado “Amigos da Cultura”, aglutinaram pessoas, discutiram projetos e cobraram uma ação mais propositiva da parte da Prefeitura, ali representada pelo responsável pela Secretaria em que está alocada a pasta da cultura: Ivan Rosa. Frente às cobranças, o gestor abandonou o grupo no dia 11 de março. Em tom lamurioso, assim se justificou: “o que era para ser um grupo de divulgação de trabalhos artísticos virou um grupo de política. Como já tem vários que eu participo, vou me ausentar”.
Em face da inação da referida Secretaria, os trabalhadores e as trabalhadoras da cultura resolveram protocolar um ofício no dia 18 de março, no qual exigiam do prefeito Luís Eduardo Falcão ( Podemos ) uma postura mais assertiva. Para além de demonstrar sua insatisfação com o nome escolhido para ocupar a pasta, questionaram também o emprego do orçamento disponível nos fundos municipais, a saber: Fundo Municipal da Cultura, Fundo Municipal de Patrimônio Cultural e Fundo Municipal de Turismo.
As exigências feitas pela classe artística foram sintetizadas da seguinte forma:
- Ou que ocorra imediata abertura de diálogo entre o gestor da pasta, seus diretores e a sociedade civil, com o objetivo de discutir políticas públicas e a realização de projetos culturais emergenciais que atendam a classe, utilizando e respeitando os recursos hoje disponíveis nas dotações da secretaria e nos fundos municipais ligados à pasta.
- Ou que o chefe do executivo promova total reformulação na equipe de condução dos trabalhos da Secretaria Municipal em referência, buscando contar com pessoas aptas ao diálogo e à execução de ações que atendam os anseios da classe cultural patense.
Passados onze dias desde que o ofício foi protocolado, o prefeito se pronunciou por meio da conta no Instagram: “apesar da limitação de recursos, há, sim, um trabalho incansável do poder público para encontrar soluções relativas ao segmento, um dos mais afetados durante a pandemia de Covid-19”. Na ocasião, Falcão anunciou que a prefeitura já está trabalhando na elaboração de um auxílio emergencial, de R$ 200 a R$ 400, que contemplará cerca de trezentos profissionais. Maiores detalhes sobre isso serão anunciados nos próximos dias por Ivan Rosa, responsável pela pasta.
Apesar do aceno positivo da parte da Prefeitura, a classe artística deve ter em mente que essa conquista não foi resultado da benevolência dos de cima, mas sim resultado da organização dos debaixo. Reter essa lição ajudará a manter essa conquista, bem como se mobilizar em prol de outras.