Nesta semana me deparei com a seguinte matéria no Patos Hoje, principal portal de notícias da cidade: “Empresa vai doar R$1,00 para compra de cestas básicas para cada novo seguidor no Instagram”. Obviamente, se trata de um informe publicitário, mas não nos impede de uma reflexão.
Segundo o texto do informe, Washington, dono do escritório de contabilidade que iniciou a campanha, constatou que o número de brasileiros que vivem na pobreza quase triplicou nos últimos seis meses. “O objetivo é levar esperança às famílias que se encontram em situação de miséria”, destacou o idealizador da campanha.
A ação social da empresa, que foi louvada nas redes sociais, até tem boas intenções, mas que fique claro: não passa de uma jogada de marketing. O que não é de todo ruim, só não podemos confundir isso com solidariedade. Antes que alguém diga que o importante é ajudar de qualquer maneira, eu digo que sim. Mas é preciso distinguir os propósitos de cada tipo de ação.
A responsabilização social de uma empresa, tema muito debatido hoje em dia, surgiu dentro da lógica do neoliberalismo, que “estende a mão”, mas não se preocupa em mudar o sistema econômico – principal causador das mazelas sociais. Por exemplo, o aumento da fome e pobreza no Brasil antecedem a pandemia do ano passado e se encontram nas políticas ultraliberais de Paulo Guedes, ministro da economia.
O “estender a mão”, fazer doações de dinheiro ou comida e outros gestos do tipo, são ações verticais – de cima para baixo – onde implicitamente jaz uma relação de desigualdade naturalizada. O que a sociedade precisa é de ações horizontais, cujo objetivo é acabar com essa desigualdade. Para reverter isso é preciso mudar a estrutura na qual nossa sociedade está alicerçada e isto se faz juntamente com um discurso político.
É preciso ressaltar que a caridade não tem o mesmo poder da solidariedade. São coisas distintas. Porém, se você tem o costume de doar qualquer tipo de coisa, não deixe de fazê-lo, afinal não é este o ponto. O que você precisa fazer é apoiar e participar dos movimentos sociais, dos coletivos, associações ou de qualquer iniciativa popular que lute pelo povo e que não exija contrapartidas por isto – tipo seguidores no Instagram.
No âmbito nacional, um exemplo de solidariedade é o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que sempre se empenhou na doação de milhares de toneladas de alimentos e é referência em agricultura familiar. Além da arrecadação de alimentos, o MST também luta por uma reforma agrária e por moradia para todos. Em Patos de Minas existe o Coletivo Mada, que também doa alimentos para famílias carentes, luta contra o racismo e pela emancipação de pessoas negras.
Ainda no texto do Patos Hoje, há uma citação dos representantes da empresa: “apostamos em uma ideia simples e objetiva, pois sabemos que, se cada um fizer sua parte, podemos tentar diminuir um pouco as estatísticas do governo e levar mais esperança às famílias”. Penso o contrário, o potencial transformador reside na coletividade e não em ações individuais. Por isso, deixo aqui a minha reflexão, que não tem o objetivo de criticar quem quer ajudar, mas inspirar ações que verdadeiramente são capazes de mudar o status quo.