Reajuste salarial dos vereadores foi prato cheio para o moralismo da antipolítica

Ao se deparar com políticos como José Borges Jr. alardeando que se opuseram ao reajuste salarial, não os julgue melhores que os demais. Afinal, não há nenhum grande feito nos seus gestos, apenas o cumprimento mínimo do dever.

Na quinta-feira (22), fomos surpreendidos com um projeto de lei em tramitação, na Câmara Municipal de Patos de Minas, que visava reajustar os salários dos vereadores e do executivo  em plena pandemia. O projeto de lei, que foi aprovado em primeiro turno, foi retirado de pauta após a polêmica. Apenas três vereadores se opuseram inicialmente à proposta: Elizabeth Maria (DEM), conhecida popularmente como “Dona Beth”; José Luiz Borges Júnior (PODE) e Vitor Porto (CIDADANIA).

Em nota, a Câmara Municipal esclareceu não se tratar de aumento salarial, mas sim de um reajuste de 5,45% de acordo com inflação – previsto constitucionalmente. Esse reajuste também foi dado aos demais servidores públicos. Para quem não sabe, os vencimentos totais de um vereador em Patos de Minas somam R$10.109,30; e com os descontos, diminui para R$7.705,57. Porém, é preciso ressaltar que a média salarial do restante do funcionalismo público municipal nem chega perto deste valor – tornando o reajuste para esta categoria, imprescindível. 

Em um cenário cada vez mais perturbador, com perdas de empregos, austeridade, crescimento da pobreza e miséria, toda a população vem se sacrificando para se adaptar à crise. Por isso, um reajuste salarial, para quem recebe vencimentos maiores que 7 mil reais, é totalmente inadequado – ainda mais quando o dinheiro vem dos cofres públicos. Assim, vereadores novamente mostram o que há de pior na classe política: falta de espírito público e senso de coletividade. Entretanto, a problemática não para por aí.

Não tardou para que alguns vereadores e outros oportunistas políticos viessem a público fazer demagogia do acontecido – principalmente aqueles que votaram contra o projeto. Notadamente, o vereador bolsonarista José Luiz Borges Jr., seguidor ferrenho do atual presidente Jair Bolsonaro e adepto de suas ideias negacionistas. A polêmica do reajuste foi um prato cheio para movimentar suas redes sociais.

Políticos demagogos como ele, geralmente de direita, nutrem um discurso moralizador na política e se aproveitam das falhas de seus colegas da câmara para apontar o dedo. Na verdade, fazem é valer-se do discurso da antipolítica para arrebanhar seguidores e likes na internet, apenas isso.   Então, ao se deparar com políticos como José Borges Jr. em suas redes sociais, alardeando que se opuseram ao reajuste salarial – que é um direito, mas inadequado neste tempo de pandemia -, não os julgue melhores do que os demais. Afinal, não há nenhum grande feito nos seus gestos, apenas o cumprimento mínimo do dever.

Por Geison Neves

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