Patos de Minas bate recorde de emprego, mas as condições de trabalho estão piores

O crescimento das vagas de trabalho é algo positivo, entretanto o caso em questão deve ser analisado com cautela

Notícia publicada no Patos Hoje intitulada “Estamos Contratando: Sobram vagas de emprego em Patos de Minas, faltam interessados” não passou despercebida. Quem comemorou mesmo foi o prefeito Eduardo Falcão, do Partido Novo, que publicou um vídeo nas suas redes sociais:

“Essa Patos de Minas é de mais! A maior geração de empregos da história da cidade!”, disse o prefeito. A matéria do Patos Hoje rendeu inúmeros comentários, mas muitos discordando da realidade apresentada na matéria, comemorada pelo prefeito. Alguns internautas comentaram:

“(…) Pessoal tem que entender que o mercado mudou poucas pessoas vão se sujeitar à escravidão para ganhar R$1300, trabalhando o dia inteiro em pé de segunda a sábado.”

“Povo está cansado de ser explorado ganhando um salário-mínimo (…) se mata de trabalhar (…) não tem reconhecimento, não tem plano de saúde e vale alimentação.”

Segundo o texto do Patos Hoje, nos últimos três anos, Patos de Minas teve um salto de mais de 28% no número de vagas de emprego disponíveis com carteira assinada. O estoque de oferta de trabalhos saltou de 38 mil empregos para 48 mil postos de trabalho. Porém, esqueceram de mencionar, também, que houve uma variação negativa no mês de outubro, com 2.575 admissões e 2.812 desligamentos – segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No Brasil, foram abertas 190.366 vagas de trabalho formal em outubro e, no acumulado do ano, o saldo foi de 1.784.695 postos de trabalho. O resultado representa aumento de 18,7% na comparação com o mesmo mês de 2022 – dados do Ministério do Trabalho.

Cabe ressaltar que, com a nova metodologia adotada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a partir do governo Jair Bolsonaro, passou-se a contabilizar também os empregos temporários como empregos formais. Assim, o saldo pode parecer positivo, mas muitas dessas vagas de emprego são provisórias e podem ser extintas.

O crescimento das vagas de trabalho é algo positivo, entretanto o caso em questão deve ser analisado com cautela. Porque muitas dessas vagas de trabalho oferecem um baixo salário com condições piores de serviço, fenômeno da precarização do trabalho – principalmente após a Reforma Trabalhista aprovada pelo governo Michel Temer em 2017. Isto é, o número de ofertas de emprego aumentou, porém, as condições de trabalho estão cada vez mais ruins. Alguns pontos da Reforma Trabalhista que pioraram a vida do trabalhador:

  • Trabalho intermitente: nessa nova modalidade de trabalho, o indivíduo é contratado temporariamente, não recebendo um salário-mínimo, mas sim de acordo com as horas trabalhadas. Além disso, o trabalhador não possui direito ao seguro-desemprego;
  • Enfraquecimento dos sindicatos: a reforma aprovou o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical;
  • Acordos individuais de contrato de trabalho: com essa nova medida as empresas podem negociar diretamente com o trabalhador a redução de jornada e de salário, suspensão de contrato, entre outras coisas, sem o intermédio do sindicato;
  • Terceirização: ficou permitida a terceirização de forma ampla, ou seja, de qualquer atividade, inclusive a atividade principal de uma empresa.

Além da piora nas condições de trabalho, o trabalhador viu o seu salário encolher, já que desde 2017 o salário-mínimo não teve aumento real. Ou seja, por mais que o salário-mínimo tenha aumentado, na prática está menor do que há  cinco anos.

A política de valorização do salário mínimo garantia aumento real no índice ano a ano / Dieese/IBGE

Portanto, a ausência de interessados nas vagas de emprego se deve às piores condições de emprego. Não é algo para ser comemorado. A comemoração do prefeito Eduardo Falcão, que rendeu até vídeo na sua rede social, é propaganda política demagógica almejando sua reeleição no próximo ano.

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