No último sábado, 25 de março, membros do Patos à Esquerda e simpatizantes se reuniram para a primeira etapa do Ciclo de Formações que tem como objetivo o aprofundamento da compreensão sobre a militância política e as formas de atuação no contexto local. Agradecemos, portanto, a todos que, com suas presenças, nos proporcionaram uma tarde bastante proveitosa.
A Livraria Comuna de Patos esteve no evento, difundindo a literatura anticapitalista e, especialmente, o livro Neno Vasco por Neno Vasco, de Thiago Lemos Silva.
No encontro, foram discutidas as formas de organização na esquerda a partir dos eixos social e político. Nesse sentido, as formas de organização foram sendo historicizadas a partir de suas formas em sindicatos, territórios, movimentos comunitários e partidos, autogestionados ou não.
Destacou-se a discussão sobre o significado de “partido” sendo disputado ao longo da história tanto quanto conjunto de pessoas organizadas com um projeto político ( caso de anarquistas) quanto como instituição política formal (caso de socialistas e comunistas). Nesse debate, entraram as concepções de partido de quadros e partido de massas, bem como as problemáticas atuais dos grupos radicais de esquerda e sua relação com os chamados partidos da ordem.
Outro assunto que rendeu discussão foi a questão da identidade. A saber, diferenciou-se identidade e identitarismo, a fim de ressaltar a importância da chave identitária como fator da articulação de setores destacados da luta popular (pessoas negras, mulheres, comunidade LGBT) nas organizações de esquerda, com o propósito de incorporar nelas de modo mais orgânico as pautas de raça, gênero e sexualidade.
Mas, ao mesmo tempo, buscou-se alertar para o perigo do indentitarismo. Com o propósito de especificar esse perigo, podemos agora recorrer a Silvio Almeida1no prefácio de Armadilha da Identidade: raça e classe nos dias de hoje, de Asad Haider., que explica que o perigo está em analisar a identidade “afastada de sua dimensão social”, de modo que ela passe a ser “simultaneamente, ponto de partida e ponto de chegada, colocando o pensamento em um loop infinito de pura contradição”, no qual o debate “jamais ultrapassa a si mesmo”.
Dessa discussão se seguiu uma outra, sobre a “interseccionalidade”. O uso do termo tem origem no Direito e normalmente faz referência aos pontos de encontro entre as opressões e condicionantes de gênero, raça, classe, nacionalidade e outros nas disputas políticas. Optamos por trabalhar, então, com a ideia de “consubstancialidade”, de modo a compreender que todas as opressões ligadas ao capitalismo compartilham de sua substância fundamental, a dominação e exploração, mas que cada uma delas é imprescindível ao sistema. Em resumo: o capitalismo não se sustenta sem racismo, machismo, lgbtqfobia, xenofobia – e reconhecer cada uma dessas formas de opressão nos ajuda a descrever adequadamente o funcionamento da opressão de classe, outrora tida como central ou como a única essencial ao capitalismo.
Por fim, outro tema colocado na roda de conversa foi o próprio Patos à Esquerda e suas formas de inserção local. Diante da pressão social da atualidade para que se adote modos de comunicação cada vez mais dependentes do jeito de fazer e sentir das redes sociais (especialmente aqueles caracterizados pela curta duração, pelas frases de efeito, pelos textos curtos e simplificados e pela linguagem reativa), adotamos uma postura mais cautelosa.
Ao mesmo tempo em que reconhecemos a necessidade de dar maior fluidez e acessibilidade aos conteúdos e às suas maneiras de divulgação, não queremos nos render a uma maneira de fazer política que seja gerenciada pelas exigências de celeridade, volume, brevidade e reatividade. Tais demandas são, majoritariamente, do interesse das corporações de mídia2As chamadas Big Techs, como o Facebook, a Alphabet (Google), a Amazon, a Microsoft.,que querem transformar política em entretenimento. Não pretendemos “instagramar” o Patos à Esquerda, que foi fundado para ser independente e proporcionar um lugar de reflexão crítica para a comunidade.
Iremos, na verdade, experimentar novas (ou não tão novas) formas textuais, temas e meios de convidar as pessoas para a reflexão e mobilização. Temos, para isso, plena convicção de que as pessoas trabalhadoras são conhecedoras da realidade discutida no site, podendo não só se politizarem por meio dos textos, mas também questioná-los e escrevê-los. Contamos, assim, com o apoio dos simpatizantes e novos integrantes para as adequações.