Que nos diz o Primeiro de Maio?
Essa manifestação do proletariado universal lembra-nos a grande agitação operária de 1884 a 1886, na América do Norte, para a conquista das 8 horas.
Lembra-nos que o operariado recorreu à ação direta — vasta, pertinaz, enérgica —, depois de ter solicitado e aguardado em vão a benevolência dos legisladores, desesperado das providências legais, perdido toda a paciência; que ele colocou a ação no seu terreno próprio, no da luta de classes, com os objetivos e meios adequados.
Recorda-nos o sacrifício — não místico e desejado, mas resultado da luta necessária — de oito militantes anarquistas, que era a alma do movimento.
Recorda-nos como, apesar de imbuído de ideias revolucionárias e anarquistas naquele momento, o movimento operário norte-americano pôde degenerar no que é hoje, enveredando pelo reformismo legalitário e pela colaboração de classes, pelo corporativismo estreito e pelo funcionalismo.
Lembra-nos como o próprio 1.º de Maio, desviado e falsificado pelos parlamentaristas e pelos políticos, pôde esquecer-se muitas vezes e em muitos lugares da sua origem e do seu significado, deturpado com cortejos e petições ao parlamento.
Eis a lição que ele nos dá.
Ele diz-nos a eficácia exclusiva da ação direta, da luta de classes. Diz-nos que é neste terreno que deve assentar o movimento operário, fugindo do atoleiro da colaboração de classes, da confiança na lei, das reformas de tributos e de fomento.
Diz-nos que os operários anarquistas, suscitando a união dos trabalhadores fora dos partidos, para defesa dos seus interesses de classe, devem manter dentro da organização econômica do proletariado a mais ardente atividade e o mais vivo espírito de iniciativa, reivindicando ali para as suas ideias a mais ampla tolerância e liberdade — alma duma união sincera e duradoura.
Ele aconselha-nos a luta, a propaganda, a atividade, a confiança no esforço próprio — não apenas durante o dia de hoje, mas sempre, a todas as horas e em todas as ocasiões.
Publicado originalmente por Neno Vasco, no jornal A Aurora, Porto, em 1914.