Nós contra eles

A poesia a seguir foi escrita tendo em vista as temáticas que frequentemente aparecem nos encontros de slam. Ela procura expressar a dureza da luta de classes e, ao mesmo tempo, mobilizar os afetos que trabalhadores e trabalhadoras sentem nos enfrentamentos cotidianos.

Cada um com seus corres
Vivendo do jeito que dá
Cada lágrima reservada ao seu espaço particular
Sucumbido ao cansaço
Você vai privar outros ouvidos
Das suas choranças, das suas esperanças, das suas andanças em pé descalço e rachado.
Fra-cas-sa-mos! 
Fracassamos em comunhão.
Fracassamos no coletivo.
A cada dia o bolo de quem não tá com fome cresce, vertiginosamente.
Com a boca suja de bolo, mentem que a vergonha nem sentem.
Quem está com fome come a migalha da conciliação, da permissão, do… “perdão, meu patrão, posso por aqui um pouco mais de macarrão?”
DA SOBRA
MACARRÃO DA SOBRA!
RAÇÃO!
A fome vai ter um bode expiatório.
E como há de se esperar, a culpa vai ficar no lombo do trabalhador.
Feito mula.
Há culpa, há tristeza, há miséria, há dor… há fome?
Você não se esforçou o suficiente!
Você gasta seu dinheiro ineficientemente!
Como animais de carga, carregamos as vigas que mantêm essa estrutura erguida:
estrutura velha, enferrujada e reformada pra esconder sua própria selvageria (sua feiura)
Fomos obrigados a não segurar nas mãos uns dos outros.
Nessa jogada covarde do capitalismo contra a vontade povo:
Uns se perderam,
Uns ainda procuram,
Uns morreram,
Uns esqueceram,
Uns ainda não perderam a fé,
Uns usaram a fé demais,
Uns e outros, todos trabalhadores.
Mas aqui fica uma fagulha
São eles contra nós o tempo todo
Cada segundo do nosso tempo
Cada respiro é bilhões pra lá e miséria pra cá
Não temos nada a perder
Nada mesmo, meus amores!
Portanto, paz entre nós
Guerra aos senhores!
É TUDO NOSSO, PORRA!

Lucha por la Emancipación, por David Alfaro Siqueiros (1961)

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