Em “Meu legado é força”, a poetisa Élida Abreu nos brinda com um hino à beleza da luta do povo preto no Brasil.
Por Élida Abreu
Você pode chamar do que você quiser, eu chamo isso (boca) de essência.
Você pode chamar do que você quiser, eu chamo isso (cabelo) de resistência.
Porque manter meu corpo de mulher preta, de pé e sem retroceder é muito mais que sobrevivência.
Talvez do seu lugar de privilégio você não entenda a real, pode até ser simpático à causa, dizer “poxa como eu admiro”.
Mas na prática, no Brasil, ser preto é estar sujeito a qualquer momento a ser alvejado por 80 tiros.
Minha música, minha ginga, minha rima me definem mas não me limitam.
Há quem critique, quem goste e sempre vai ter quem imite.
Tentam tirar o foco do povo originário, porque mostrar coisa de preto no fenótipo branco é muito mais interessante pro comerciário.
Só quem carrega a herança da ancestralidade sabe que mesmo depois de 134 anos, tá muito distante a tão sonhada igualdade.
Mesmo assim me fortaleço junto com meus pares.
Cada porta que se fecha, cada emboscada na encruzilhada me faz ter a certeza de qual é minha missão aqui nessa jornada.
Pra cada um que conspira contra nascerão dois que se juntam.
Pra cada tentativa de apagamento aparecerão três que se somam à luta.
E assim seguiremos…
Eles combinaram de nos matar, e nós combinamos de ficar vivos.
Por essas e pelos nossos… RESISTIREMOS.