Entre desafios e vitórias na greve da educação

Relatos de um professor aponta vitórias e limitações dentro do movimento grevista, mas ressalta: a greve não pode parar!

Desde o dia 08 do mês passado, boa parte dos professores do estado de Minas Gerais estão mobilizados na luta pelo pagamento do piso salarial, que tem o valor de R$ 3.845,63 estabelecido por lei. Esse valor está bem distante do valor que é pago atualmente pelo governo Romeu Zema (Novo) – cerca de R$ 2.135,64. Além disso, outra pauta da luta é a oposição ao Regime de Recuperação Fiscal, que congelaria os salários de servidores e impediria novos concursos.

Desde que aderi ao movimento, nunca duvidei do potencial da luta coletiva. Historicamente, as greves sempre foram uma forma de resistência a sistemas de opressão. Retrospectivamente, a Greve Geral de 1917 e recentemente, a Greve dos Caminhoneiros em 2018, mostraram o poder de uma classe maciçamente unida. Não deixemos de lembrar que muitas das atuais conquistas vieram da luta grevista.

Porém, como todo movimento coletivo, há suas contradições. Por que não estão todos os professores em greve, uma vez que todos serão beneficiados pelas conquistas? Por que em Patos de Minas poucas escolas aderiram ao movimento? A falta de consenso entre os professores é um argumento utilizado pelo  governo para se recusar a negociar com a categoria – ainda que Minas Gerais pague um dos salários mais baixos da educação. Entretanto, o momento não é de trocar acusações, mas sim de buscar um esclarecimento.

Penso que a tendência de enfraquecimento dos movimentos sociais é geral. Recentemente estamos vivendo uma mudança de paradigma que se iniciou no início do século XXI, marcado pela ascensão do neoliberalismo não somente no seu modelo econômico, mas também no seu modelo de organização da sociedade e a forma de pensar da população. A luta coletiva vem perdendo o fôlego em diversas frentes e, desde então, passamos a naturalizar a perda de direitos, a precariedade do trabalho e a exploração do capitalismo.

O sucateamento da educação pública nesse contexto foi inevitável: cortes de investimentos, cortes de bolsas para pesquisa etc. O ápice desse sucateamento em Minas Gerais veio com o governo ultraliberal do Romeu Zema, que tem propostas de privatização do ensino. Cabe lembrar também que o governo Zema, de início, recusou-se a pagar o rateio do FUNDEB aos professores, mas acabou cedendo após pressão. Diante disso tudo, não só muitos professores permaneceram passivos, mas a população em geral tampouco se mobilizou.

Muitas vezes escutei dizeres, vindos de colegas de trabalho, de que professores grevistas não gostam de trabalhar ou fazem greve para sair a passeio. Essas falas são repetidas tantas vezes que muitos professores se utilizam desse argumento para não aderirem ao movimento. Outros se recusam a participar “porque greve nunca dá em nada” ou seguem anestesiados pelo fato de o atual governador pagar o salário em dia. Será apenas isto suficiente? Não merecemos mais?

Nessa situação difícil, o sindicato não consegue reunir todo o seu poder de barganha, que emana da classe trabalhadora, pois o sindicato é apenas uma entidade representativa e mediadora. Na escola onde trabalho, poucos são os professores filiados e muitos dizem não se sentir representados pelo sindicato. Desde a última reforma trabalhista, os sindicatos e demais agremiações vêm perdendo força e sofrendo todo tipo de ataques vindos do bolsonarismo ao ultraliberalismo do nosso governador, resultando na perda de popularidade e filiações.

Venho dizer que nessas últimas semanas o trabalho tem sido incansável: assembleias em Belo Horizonte, passeatas, carreatas, panfletagens, manifestações e campanhas nas escolas. Tenho certeza que a greve é o maior instrumento de luta à nossa disposição.  E muitas foram as vitórias, como a aprovação, em segundo turno, na Assembleia Legislativa, do reajuste aos profissionais da educação.

Apesar de algumas frustrações, não deixei de notar muita coisa boa em todo esse movimento: professores jovens na linha de frente, estudantes apoiando a greve, escolas inteiras paralisadas e multidões ocupando as ruas. Por isso, aos professores que continuam em luta, não é hora de desistir ou deixar se abater. É hora de reunir forças e lutar com a consciência limpa de que estamos fazendo a nossa parte!

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