Temos que politizar o que está acontecendo no Rio Grande do Sul? Absolutamente, sim. Pois foi justamente a política que fez com que a população gaúcha se encontrasse, agora, em extrema condição de vulnerabilidade. Politicamente, existem muitos responsáveis. Desde prefeituras ao governo federal que, independentemente de quem o encabeça, insiste em seguir um projeto desenvolvimentista suicidário, o qual deixa para pensar em segundo plano (isso quando pensa!) as questões ambientais e climáticas. Contudo, neste texto, pretendo abordar a figura política que exerce o principal poder executivo do estado gaúcho: Eduardo Leite.
Quem assiste pela TV o governador Eduardo Leite vestindo um colete da Defesa Civil, pode ser levado a crer que ele trabalhou e trabalha incansavelmente para diminuir as consequências devastadoras trazidas pelas fortes chuvas que caem há semanas no Rio Grande do Sul. É uma crença ilusória. O colete, nesse contexto midiático, é somente uma fantasia de político oportunista. Populismo barato. Eduardo Leite de colete é como um João Dória se esforçando para comer um pastel na feira.
Se olharmos com mais atenção aos detalhes, o governador está completamente perdido. Ainda que devamos reconhecer o mérito de sua oratória, o conteúdo de sua fala é vazio, sem rumo, como um texto produzido por um gerador de lero-lero padronizado conforme normas da ABNT.
Ano passado, para ser mais preciso, em setembro de 2023, o Vale do Taquari foi acometido por chuvas rápidas e concentradas, com fortes rajadas de vento. A cheia dos rios provocou inundações em algumas cidades, o que resultou em 54 vidas perdidas. Os especialistas em meteorologia afirmam que o evento climático de abril e maio de 2024 é diferente daquele no ano anterior. No momento seria um ciclone extratropical. Sua causa é explicada por Francisco Eliseu Aquino, professor de geografia da UFRGS. Trata-se de um choque produzido pela tentativa de entrada de uma massa de ar frio oriunda da Antártica no sul tropical. Isto é, em um ambiente que estava extremamente quente. Até o momento é o mês de maio mais quente dos últimos 170 anos nas Américas, afirma o especialista.
Mas por que será que o Rio Grande do Sul está tão quente em maio? Seria uma baforada de satanás devido ao show de Madonna em Copacabana? O conhecimento científico diz que não. São as mudanças climáticas desfilando eventos climáticos extremos. As chuvas são mais fortes e volumosas, ainda que, em frequência, diminuam. A chuva de 2024 que cai no Rio Grande do Sul, por exemplo, é intermitente. E as tais mudanças climáticas tem, sim, a ver com política. São parte do resultado de nossas escolhas sobre como lidamos com a natureza e com as pessoas. Isso é política. A situação, portanto, já está politizada desde o ponto de partida.
No entanto, discursos liberais e conservadores pretendem tacitamente negar a realidade dos fatos. “Não é hora de politizar”, dizem. Muito conveniente nesse momento. Pois são exatamente os projetos políticos por trás desses discursos que pretendem manter tudo do jeito que está. Na verdade, a pretensão é acelerar a destruição dos recursos naturais, reduzir direitos sociais e eximir o governo de responsabilidades.
Mesmo com os desastres do ano anterior, o governador Eduardo Leite ignorou solenemente os avisos de ambientalistas e cientistas, segundo os quais neste ano poderia acontecer de novo ou pior. O governo deveria se preparar. Mas fez o contrário — como já era de se esperar de uma figura política do tal “bolsonarismo moderado”. Reduziu o orçamento em relação ao ano anterior para esse fim. Somente 50 mil reais foram destinados para a compra de equipamentos para a Defesa Civil — órgão cujo colete é vestido pelo governador a fim de simular uma preocupação. Uma ofensa à inteligência da população!
Entretanto, fazer a crítica e pensar politicamente a situação não precisa prescindir de sermos solidários e contribuir com a população gaúcha. Claro, é preciso ter cuidado com os oportunistas e golpistas. Mas há instituições sérias fazendo arrecadações e trabalhos em prol dos “refugiados climáticos”.
Vou listar três para quem pode e quer contribuir.
- Defesa Civil do município de São Leopoldo
Depósito bancário: Conta 83.130-1, Banco do Brasil, Ag. 0185-6
- Sindicato das Sapateiras e Sapateiros do município de Novo Hamburgo
Chave pix: rededesolidariedadenh@gmail.com
- MST – Movimento Sem Terra – Em várias localidades
Chave pix: 09352141000148
Depósito bancário: Banco: 350 Agência: 3001 Conta: 30253-8 CNPJ: 09.352.141/0001-48 Nome: Instituto Brasileiro de Solidariedade