Editorial: a conjuntura e a volta do Patos à Esquerda

Após relativo período de inatividade, retomamos, a partir desta semana, nossas publicações.

Por certo, leitores(as) perceberam que o Patos à Esquerda anda pouco movimentado. Como projeto independente, estamos sujeitos às intempéries das vidas pessoais e profissionais de cada um de nós, que não vivemos do trabalho desempenhado aqui. Em virtude disso, decidimos interromper temporariamente os trabalhos para que pudéssemos nos reorganizar com vistas a um eventual retorno, que agora se concretiza.

Estamos cientes de que nossa ausência se deu em um momento particularmente sensível da história social e política do Brasil. O pleito deste ano, além disso, revelou a desorganização generalizada da esquerda institucional, que abre espaço para uma extrema-direita delirante e oportunista. Por esse e outros motivos, esta ocupará diversos cargos no Legislativo e no Executivo, seja no âmbito estadual, seja no âmbito federal, testando os limites da democracia burguesa e deteriorando suas instituições. 

Bandeira simbolicamente presa na concertina de uma casa (de algum bolsonarista, aparentemente) em Patos de Minas, sob céu nublado. Foto tirada em outubro de 2022.

No entanto, estamos cientes também de que a simples ocupação de espaços dentro das instituições da democracia burguesa não irá deter a extrema direita, cada vez mais fascista. Mesmo que Lula vença a corrida presidencial, sabemos dos sérios limites que seu projeto de centro-esquerda (mais de centro do que de esquerda) encontrará. Grande parte desses limites se encontra, obviamente, no próprio grau de enraizamento e difusão da extrema-direita no tecido social, em geral, e no tecido político, em particular. Verdade seja dita: as limitações estão igualmente na postura conciliatória da centro-esquerda, cada vez mais preocupada em fazer pactos com os partidos da ordem (ainda que para salvar o que resta da democracia burguesa) do que em mobilizar os movimentos sociais pela base para construir uma democracia genuinamente popular.

Enquanto escrevemos estas palavras, ocorre uma feroz operação de esquecimento e negação da história que pretende alçar o genocida que atende pelo nome de Bolsonaro a um segundo mandato. Localmente, lideranças do latifúndio e da pequena burguesia, cheias de oportunismo, arregimentam-se em um bolsonarismo tosco e falastrão, que conclama os cidadãos a uma “guerra” (como disse o Luís Eduardo Falcão) cujas consequências envolvem mortes, mentiras e destruição. A trincheira informacional, até recentemente pouco ocupada pela esquerda, tornou-se um campo aberto com fogo cruzado e muitos estilhaços. Durante as campanhas, toda sorte de informação circula, muitas vezes com mais enfoque no volume e na sincronização (celeridade) do que no conteúdo.

Considerando esse cenário, insistimos na ideia, cara aos zapatistas, de que é necessária uma “Outra Campanha” – que não esteja subordinada às campanhas eleitorais. Ela deve ser construída, fortalecida e difundida todo dia, todo mês e todo ano, visando implicar cotidianamente os sujeitos sociais, de baixo para cima, com vistas à realização de um projeto substancial de transformação das estruturas que compõem o capitalismo.

“Nós definimos uma linha muito clara: uma linha de esquerda e anticapitalista. Não de centro, não de direita moderada, não de esquerda racional e institucional. Mas de esquerda, onde se situa o coração, onde está o futuro”.
(Subcomandante Marcos, liderança do Exército Zapatista de Libertação Nacional, em entrevista ao Le Monde)

Fiel a tais princípios, o Patos à Esquerda volta para seu posto na batalha pela informação, reafirmando seu compromisso de fazer pesar no debate o ponto de vista dos trabalhadores e das trabalhadoras, produzindo, divulgando e circulando conteúdo que visibilize as contradições sociais, noticie as lutas dos movimentos populares, acompanhe a trajetória da esquerda e contribua para um fórum permanente de discussões sobre os caminhos em prol de uma cidade mais justa, livre e igualitária.

Mudanças

O Patos à Esquerda volta, porém, não do mesmo modo. Durante este intervalo que se impôs, percebemos a necessidade de dar um passo além em nossa organicidade. Assim, o Patos à Esquerda deixa de ser apenas um coletivo que elabora um site voltado para informação e debate das lutas sociais para ser uma organização política de tendência, que busca  incidir diretamente sobre as lutas sociais. 

Enquanto uma tendência, nos caracterizamos como uma organização que congrega militantes oriundos de diferentes espectros da esquerda anticapitalista (socialistas, comunistas, anarquistas). Todos convergem quanto à urgência de um trabalho de base junto à classe trabalhadora.

Fotografia de Manifestação contra Bolsonaro em Patos de Minas em 2021. Créditos: @millovenuss

Entendemos que é esse trabalho, feito de modo organizado e sistematizado, que nos permite estabelecer nossas metas, tanto a curto quanto a longo prazo. A curto prazo, entendemos que é necessário lutar para conquistar e ampliar os direitos dos grupos subalternizados dentro dos limites estruturais impostos pela sociedade capitalista. A longo prazo, entendemos que é preciso lutar pela transformação das próprias estruturas que fazem parte do capitalismo.

Nos propomos, para isso, a participar de iniciativas que visem a agitação, organização e educação da classe trabalhadora, tais como manifestações públicas, comunicação popular, organização sindical, cursinhos comunitários, redes de economia solidária.

Sabemos que, vença quem vencer, a extrema direita não deixará de existir depois de 1 de janeiro de 2023. Caso queiramos que a esquerda avance na luta por um mundo livre e igualitário, é urgente que nos organizemos desde já em nossos bairros, locais de trabalho, escolas e demais espaços de sociabilidade para sermos capazes de articular minimamente algum grau de resistência e combatividade.

Caso você se identifique com a nossa proposta, caro(a) leitor(a), escreva-nos pelas nossas redes sociais! Venha participar da nossa organização!

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