A Villa em fechamento

Por certo, é com tristeza que recebemos as últimas notícias a respeito da pandemia em Patos de Minas. Como era de se esperar, já que a Prefeitura foi negligente (pelo menos) durante dezembro e janeiro, fevereiro despontou com um cenário desesperador. 

Depois de muita pressão, o prefeito/digital influencer Falcão voltou atrás em sua agenda maluca de flexibilizações do isolamento. A realidade não perdoa e, diante das várias mortes, percebe-se que o isolamento se tornou obrigatório. As sandices anteriores de Falcão, por sua vez, mostram-se hoje opcionais e perigosas. 

Alguns, revoltados com a situação de fechamento, apontam que não faz sentido decretar restrições tão amplas. Com efeito, a medida mostra-se atrasada. Por isso é tão dura.

O isolamento social tem melhor funcionamento quando é feito antes de a doença se disseminar ou em momentos iniciais. As medidas de março e abril de 2020, por exemplo, apesar de muito ríspidas, foram fundamentais para que se ganhasse tempo para conseguir recursos. Elas também foram importantes para permitir uma abertura posterior do comércio.  

A verdade sobre o isolamento é a de um remédio que arde. Quanto mais rápida e eficientemente se aplicar, menor o sofrimento. Basta notar que a própria China, até no epicentro da doença, já retomou cautelosamente muitas atividades. Isso exatamente porque as autoridades foram radicais e intransigentes ao impor medidas sanitárias. Mostraram um compromisso com as vidas e com a economia que não se viu em terras brasileiras. Tamanho é o vexame que os brasileiros “resgatados” de Wuhan já se arrependeram de voltar para cá.  

Em Patos de Minas, a prudência de março de 2020, acusada de exagero, foi substituída por uma tática, no mínimo, irresponsável. Ela corresponde a uma preferência por reagir ao caos em vez de evitar a crise

Desde as campanhas eleitorais, essa mudança é perceptível. E a campanha de Falcão notabilizou-se por ser uma das mais estúpidas quanto ao vírus, haja vista as aglomerações, os elogios ao genocida Bolsonaro e até a recuperação “relâmpago” do próprio candidato, que chegou a ser infectado.

De lá para cá, adotou-se na cidade a ideia de que a doença seria uma espécie de hóspede tranquilo, dotado de paciência suficiente para esperar as autoridades tomarem providências. 

O fato é que José Eustáquio e Falcão pensaram que a cidade teria tempo (como teve no início da pandemia no Brasil) para observar tranquilamente a desgraça nas capitais antes de precisar fazer algo. Mas as redes de contágio tornaram-se sincrônicas entre interior e capitais. Isso foi avisado insistentemente antes das festas de fim de ano.  

A negligência anterior foi marcada por sinalizações de flexibilização do isolamento, tentativa de volta às aulas presenciais na rede municipal e cortes de recursos para a Saúde (sob o pretexto de otimização de gastos). Agora, a realidade se impõe. E cobra caro. 

O fechamento do comércio e as restrições de circulação são uma consequência (muito ruim) de meses de frouxidão. O problema econômico, embora possa parecer, não é peculiaridade patense. O país inteiro está em apuros com a desvalorização do Real, com o brutal aumento do valor da cesta básica e com a “economia da carochinha” praticada por Paulo Guedes e Bolsonaro.  

Qualquer “gestor” sensato, ainda que capitalista, tomaria medidas intervencionistas para garantir o consumo das famílias, evitar a quebra de pequenas e médias empresas e “salvar” a moeda nacional. Em vez disso, o governo Bolsonaro, muy liberal, aposta na benevolência de grandes investidores, ignora a fome do povo, deixa pequenas e médias empresas desamparadas e sem crédito e, como se não bastasse, quer cortar investimentos estatais, sendo mesquinho até com o auxílio emergencial. 

Ao perceber a brutal desvalorização do Real, o governo ainda quer permitir o uso do dólar em contas nacionais, relegando a moeda nacional ao segundo plano. Muito patriótico! Tamanho é o furor nacionalista que o governo fez ainda outra proeza em “favor” da pátria, por meio da nova coalizão corrupta formada na Câmara, agora nitidamente situacionista: com a aprovação da “autonomia” do Banco Central, abre-se mão do principal instrumento de soberania econômica de qualquer nação: o controle democrático da política monetária. 

A Prefeitura de Patos aparentemente deixou de jogar combustível no incêndio. Faz agora o mínimo que se espera dela. Entretanto, esse contexto nacional nos indica ser possível que as chamas (locais e nacionais) se misturem e se tornem muito mais destrutivas. 

Ainda assim, pequeno-burguês que é, o governo municipal trata de procurar alguma vantagem política. Entre os estranhos préstimos do Executivo está o anúncio da abdicação de parte dos seus vencimentos. Ora, que os salários de prefeito, vice-prefeita, vereadores e afins são pontos fora da curva se comparados aos da classe trabalhadora é um fato. A sua redução temporária, a título de “dar o exemplo”, porém, nada mais é do que demagogia de políticos que, já cientes do próprio despreparo, tentam tirar o foco de sua letargia chamando a atenção da população para suas supostas caridades.

Onde estava toda essa filantropia, essa abnegação humanitária quando Falcão era avisado que a situação sanitária iria se agravar e que eram necessárias medidas mais rígidas? Segundo ele, “ninguém imaginava que nós chegaríamos a este ponto”. Falso. Desde o início da pandemia, a imensa maioria dos especialistas alertavam justamente para o risco de se chegar ao que Patos vivencia hoje. Não adianta afirmar que o caos atual é como uma catástrofe natural inesperada.

Com muita autoestima, tentando demonstrar sua grandeza moral, Falcão procura fazer com que o patense perca a noção da grandeza econômica do município. Só para não esquecermos: vivemos numa cidade com o PIB de mais de 4 bilhões de reais. A receita municipal para 2021 está estimada em 601 milhões. A “filantropia” salarial de Falcão e Sandra Gomes é da ordem de 45 mil reais. Ou seja, um tostão!

Feliz seria a população patense se o custo de ter os políticos que temos fosse apenas aquele expresso nos salários de cada cargo!

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