Canção do Homem do Balaio

(Aos meus amigos Valdemar Gavião e Ivan Vilela)

No dia em que se comemora o Primeiro de Maio, o Patos à Esquerda publica a poesia “Canção do Homem do Balaio”, de Paulo César Nunes. Nela, o autor nos convida a fazer  uma reflexão sobre a memória (e o esquecimento) da estátua que supostamente homenageia o trabalhador rural patense.

Por Paulo César Nunes

Eu sou a estátua, a pequena
estátua do homem do campo:
levo um balaio de milho,
trabalho em roupas de missa
(pois estou numa avenida)
e este é todo o meu canto.

Eu sou a estátua que foi
o pequeno homem do campo.
E um dos braços já não tenho:
quebrou-se nesta agitada
vida de estátua migrante
que vê crescer a cidade,

talvez quando eu, já uma estátua,
tocava um boi de verdade.
Pois sob sol, e agora à chuva,
trabalhar foi minha missa.
Assim, dou as costas ao clube
e vou rumo à catedral.

Daqui uns instantes (no entanto
espero por isso há décadas)
alcançarei o busto do último
Presidente da Província:
mas já não lhe pedirei
favor, nem ele meu voto.

Sequer tirarei o chapéu!
E ele restará de bronze,
firme egrégio cidadão.
E eu, estátua de cimento,
descalço voltarei à vida
de esquecido homem do campo.

E este é todo o meu canto

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