O corpo editorial do Patos à Esquerda adverte: não saber identificar ironia pode ser sintoma de raciocínio fraco e/ou mera expressão de bolsonarismo. Em ambos os casos, deve-se procurar estudo.
Sem saber como gastar seu tempo nem os seus 8-10 mil reais de salário, o vereador Gladston (do Podemos, partido que gosta do Poder) decidiu criar uma data comemorativa. Ocorre que, na Villa de Patos, os parlamentares parecem estar demasiadamente entediados. Situacionistas, não veem muito o que fazer senão expressar, sem pudor, o bolsonarismo a reboque. Triste fardo dos derrotados nas urnas! Mas, justiça seja feita: de famíglias, Bolsonaro (ídolo do vereador) deve entender, afinal, ele teve várias.
Sem posar ao lado do prefeito, como é de seu costume, desta vez Gladston teve uma ideia que expressa toda sua sofisticação intelectual em apenas 2 artigos de um projeto de lei: criar o Dia Municipal de Comemoração da Famíglia Conservadora.
Como se sabe, a famíglia é uma instituição muito importante para a produção de traumas psicológicos e sociais. Por isso, destaca-se o ímpeto do nosso homem-bom, o cidadão Gladston, que se sente orgulhoso em promover o patriarcalismo, o controle estatal sobre o corpo das mulheres e a liberdade econômica de explorar o trabalho reprodutivo delas no seio famigliar.
Recheado com afrontas à laicidade do Estado, o projeto de lei também pleiteia a data de 19 de março (dia de São José) para homenagear a famíglia conservadora, que, segundo ele, defende a instituição religião. Assim mesmo, leitor(a), no singular, porque religião só vale se for a christã.
Sabemos que o vereador, suposto democrata, espelha-se nas ideias do reacionário Edmund Burke, político (whig) irlandês contrário à Revolução Francesa (!), para disfarçadamente tentar manter, entre as paredes dos lares patenses, a posição hierárquica e o status dos “antigos costumes e regras de vida” – aqueles mesmos costumes e regras que tão bem explicam os condicionantes dos últimos feminicídios na Villa de Patos.
Entretanto…
“Considerando que a Constituição Brasileira traz, como princípio basilar, a democracia e o respeito a ideias políticos divergentes” [sic erat scriptum1 “assim estava escrito”, só que em latim, para preservar os bons costumes – porque a primeira vítima do texto do vereador, em questões de gênero, é a concordância], como ressalta o nada nobre parlamentar na “Justificativa” de seu projeto, citamos um tradicional clássico do pensamento brasileiro, o comercial de margarina:
Afinal, o conservadorismo, tal qual manteiga, derrete ao menor sinal de crítica ou modernidade.
