Pela primeira vez na história do Brasil, militares do alto escalão das Forças Armadas são presos. Pela primeira vez, neste país tão golpeado, militares são presos por tentativa de golpe de Estado. Particularmente, por conhecer um pouquinho de nossa história, não acreditava que isso fosse acontecer. Que bom que eu estava errado.
No entanto, sem querer jogar água no chopp (mas já jogando), há ressalvas. Os presidiários não estão em uma prisão comum. Aliás, a habitação dos criminosos é melhor do que a de milhões de brasileiros. Tem geladeira, cama confortável, guarda-roupa, janela e até ar condicionado. Um luxo! Além disso, até que sejam julgados por um tribunal militar, continuam com seus cargos e patentes, recebendo proventos de recursos públicos. Mais do que isso, não sabemos se vão ficar presos em regime fechado por muito tempo.
Outra ressalva importante é lembrar que Bolsonaro e seus colegas criminosos não foram presos por causa de terem atrasado a compra de vacinas e de agirem para espalhar ainda mais o coronavírus, levando à morte centenas de milhares de pessoas cujo falecimento poderia ter sido evitado. Também não foram presos por causa dos escândalos de corrupção que envolviam principalmente os ministros do Governo Bolsonaro.
Foram presos, sim, em primeiro lugar, por não terem reconhecido e aceitado a derrota eleitoral em 2022. E não somente isso. Por divulgarem notícias falsas e teorias conspiratórias descredibilizando a justiça eleitoral (no processo comprovou-se que eles sabiam que estavam mentindo propositalmente). Com isso, insuflando e coordenando uma horda de devotos alucinados a acampar em frente a quartéis e depois invadir e quebrar estruturas e objetos do prédio do Supremo Tribunal Federal. É isso. Foram presos, sobretudo, por ameaçarem os juízes do STF – que se consideravam e ainda se consideram verdadeiros deuses. O poder judiciário no Brasil forma uma “casta” de intocáveis e jamais pode ser visto como herói do povo.
Não foram presos por atentarem contra à democracia representativa, mas pelo fato do STF ter ficado de fora do pacto e de ter sido tratado como inimigo, inclusive com planos de assassinato a um dos “deuses”. Trata-se, meus amigos e minhas amigas, de uma disputa maquiavélica de poder entre poderes.
Somente deixando em suspenso muito de tudo isso, podemos comemorar e festejar o sofrer daqueles que fizeram tantos sofrerem. “Chora, não vou ligar!”

