Neste sábado, 2 de março de 2024, um engenheiro de software da Google levantou a voz em protesto contra o misterioso Projeto Nimbus enquanto a palestra de Barak Regev, diretor da Google Israel, ocorria em um importante congresso organizado pela empresa na cidade de Nova Iorque. Tendo em vista o genocídio contínuo do povo palestino, intensificado desde o final do ano passado, o engenheiro se recusou a participar na construção de uma tecnologia que alimenta as políticas assassinas e segregacionistas do Estado de Israel.
Enquanto o engenheiro protestava aos gritos no vídeo, ele era escoltado por seguranças do evento para fora da sala de conferências. Como é de se esperar do senso comum estadunidense a respeito do conflito, a plateia era composta essencialmente de pessoas que o vaiavam, supostamente o interpretando como um tumultuador pró-palestina. Após o silenciamento à força do manifestante, Barak Regev, em um ato que passaria tranquilamente como de deboche e/ou talvez de ironia, volta ao público dizendo que “um dos privilégios de trabalhar em uma empresa que representa os valores democráticos é poder ter e dar opiniões diferentes”. Veja no vídeo abaixo:
O que se sabe sobre o Projeto Nimbus é pouco, pois o contrato se encontra em sigilo e há poucas aparições na grande mídia sobre o caso. Sabe-se que envolve uma quantia de 1,2 bilhão de dólares em investimentos que abrangem serviços de nuvem e construção de enormes centros de processamento de dados para o governo de Israel. As Forças de Defesa de Israel (IDF) e a Autoridade Terrestre de Israel (ILA), ambas instituições conhecidas respectivamente pela perseguição ao povo palestino e pela implementação dos assentamentos ilegais israelenses em terras palestinas, estão inscritas no contrato.
O projeto está em andamento desde abril de 2021, quando a Google e a Amazon assinaram o contrato bilionário. Em um pronunciamento do ministro de finanças de Israel, foi dito que “o projeto visa fornecer ao governo, ao sistema de defesa e outros uma solução em nuvem abrangente”. Uma investigação do The Intercept1 revelou que a Google irá prover uma suíte de ferramentas avançadas de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Há indícios de que estas tecnologias possam ser usadas para reconhecimento facial, classificadores automatizados de imagens, rastreamento de objetos e até analisadores de sentimentos para fotos, discursos e textos. Desde que o projeto teve início, vários trabalhadores das big techs se organizaram em protestos alegando que a prática do Nimbus serve a objetivos majoritariamente militares, tais como a vigilância do povo palestino2.
Quanto ao engenheiro que se posicionou politicamente durante a palestra de Regev, até a escrita deste artigo, nada se sabe sobre sua identidade nem se houve retaliação à sua ação por parte da empresa em que trabalha. Entretanto, há, pelo menos, um registro de que a Google já criou situações de ameaças às carreiras de seus funcionários em passado recente. De acordo com o Los Angeles Times3, uma funcionária foi compulsoriamente removida dos Estados Unidos para trabalhar na Google Brasil. Colegas de trabalho alegaram que ela havia se manifestado contra o contrato militar com o Estado de Israel e assinaram uma petição acusando a liderança da empresa por “retaliação injusta”.
- BIDDLE, Sam. Documents reveal advanced AI tools Google is selling to Israel, 2022. Disponível em: <https://theintercept.com/2022/07/24/google-israel-artificial-intelligence-project-nimbus/> ↩︎
- ESSA, Azad. ‘Google chooses apartheid over justice’: Workers protest against Project Nimbus, 2022. Disponível em: <https://www.middleeasteye.net/news/project-nimbus-israel-apartheid-google-amazon-protests> ↩︎
- HUSSAIN, Suhauna. A worker objected to Google’s Israel military contract. Google told her to move to Brazil, 2022. Disponível em: <https://www.latimes.com/business/technology/story/2022-03-15/google-project-nimbus-ariel-koren> ↩︎